quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Pistas para o Futuro da Electrónica! Queremos a sua opinião!

Independentemente da crise que afecta todas as áreas, a indústria da música electrónica está a fazer uma “travessia no deserto” - os DJs já não estão na moda como estiveram, as festas já não têm tanta afluência como antigamente, e os espaços nocturnos enfrentam mais dificuldades quando querem apostar na contratação de DJs, entre outras coisas. Acha que, no caso Português, se cometeram erros que nos levaram mais cedo a este cenário de crise? Em caso afirmativo, quais e porquê?

Na sua opinião quais são os caminhos a seguir para que possamos assistir a um regresso em força das festas, DJs, etc? Quais são os passos? O que é que deve mudar e como?

Alguns dos protagonistas da dance scene nacional falam destes assuntos na Dance Club #141 (Fev+Março)... Mas queremos alargar a discussão e tê-la aqui no blog também, por isso contamos com o vosso feedback!

3 comentários:

Serginho M disse...

Como Noctivago a já 13 anos, penso que os espaços de diversão nocturna em portugal, não são geridos por pessoas que gostam de Musica elektronica, mas sim por pessoas que querem fazer dinheiro, nada mais que isso! Já nao se vê festas como se via antigamente, No "Rocks" No "Cais447" "Swing" etc...
Agora as casas é so ladies Night e mais nao sei o que.. festas que nao tem dj's de nome e nao trazem nada de diferente! Ouve-se a Musica convencional que passa todo o dia na radio!! A 3 anos que tenho ido de férias para Ibiza, e lá não se fala em crise nos Club's, e os bilhetes são bem caros, diga-se de passagem. Mas os cartazes são de luxo, e nao falta clientela, mesmo com o preço alto. Porque as pessoas não se importam de pagar qualidade, e as festas em Ibiza tem isso mesmo, Qualidade!! é o que falta aqui! Em vez de fazerem a Ladies Night por 15 com o zé manel na cabine, Façam uma "Cocoon" com o Sven Vath por 30, e veram que a casa enche, e o cenário da Dance Music em Portugal passa a ser outro.
Vejam o cartaz do "Rock In Rio" por exemplo, o preço, e as pessoas que lá vão. Vão pk tem qualidade! Grandes noite passei no Rocks, e agora, tudo a mesma coisa na noite, sempre a mesma musica, smpre as mesmas festas, e Musica comercial....
Abraços..

Milton C disse...

A indústria da música electrónica desde a alguns meses para cá parece estar estagnada, fruto da crise económica a nível mundial. Somente os Clubs, Labels, DJ's e lojas de venda de equipamento e discos de melhor qualidade é que sobreviverão a este revés. Na minha opinião as áreas descritas acima devem apostar na qualidade, preços competitivos, mas parece que receiam fazê-lo. Para já devem acabar com os "lobbies" da noite e não só... mudar a mente das gerências e relações públicas.
Grande parte dos DJ's devem formatar a sua mente e passar som de qualidade, não devem apenas se singir às músicas comerciais que estão nos tops ou passam na rádio só para agradar as pessoas que frequentam a noite.
Cabe a um DJ ler a multidão e leva-los por uma viagem músical através de paisagens longínquas nunca imaginadas.
A indústria está também relutante em apostar em equipamentos novos, estando cientes de que tanto poderão ter boas vendas, ou bastantes quebras. Na minha opinião fazem bem em apostar cada vez mais no digital, visto ser esta a tendência do mercado, tanto para DJ's como para Produtores.
Enfim, existe muito por onde ter sucesso na indústria da música electrónica, mas há que mudar mentalidades.

Migas - Krameria disse...

Olá, queria deixar algumas palavras sobre o tema, até porque há muito tempo que vejo este cenário de crise na Dance Scene Nacional a decrescer e finalmente posso pelo menos manifestar algumas ideias.
Normalmente quando vou a um clube fico parado a olhar para a pista de dança, observo os movimentos das pessoas, as suas reacções, o que as faz divertiram-se, durante todos estes anos em que escolhi dedicar-me á dance culture, tenho visto a pista de dança mudar, tenho tentado entendê-la em especial as gerações mais jovens, procurar pensar como eles, perceber as suas “trends” e traduzir isso em música.

Passando ao tema em tópico:

Se houve erros?

Claro que sim, penso que é inquestionável para quem viveu as festas deste país nos idos anos 90, que se sente a falta daquela "hype" que nos contagiava a todos. Apontar alguns problemas é fácil, mas encontrar soluções é o maior desafio a que todos nos devíamos propor, por isso vou tentar deixar aqui as minhas convicções.

1. Falta de Brand

Penso que o principal erro foi não se ter investido em criar uma "marca" para a noite portuguesa, que nos posicionasse no estrangeiro e face a novas oportunidades que o mercado em função dessa marca teria forçosamente que criar.
Durante os tempos iniciais da explosão da dance scene em Portugal, pode-se mesmo dizer que alguns projectos nacionais tomaram a dianteira e tornaram-se pontas de lança dessa cultura no estrangeiro, mas tão rápido como conseguimos contagiar o mercado europeu e sobretudo o americano, com a nossa música, educada, underground, poderosa e muito stylish, fomos igualmente rápidos a criar clivagens e diferenciar os projectos internamente e aí começou logo a nossa derrapagem. Em suma e para o estrangeiro éramos todos bons, uns mais outros menos claro, mas internamente, havia os bons, os muito bons, os maiores de todos e os mais ou menos e aí, começou um movimento desorganizado que se expandiu pela novidade e frescura que trouxe, sem ser capaz de ver a 10 anos de distância.

2. Falta de Especialização

Outro e quanto a mim segundo grande factor de derrapagem da cena nacional, foi o facto de não nos termos especializado num estilo específico, ou seja todos sabemos qual é o estilo de música pelo qual os portugueses são conhecidos no mundo, todos sabemos mas fingimos que não o percebemos e aí também o Dance Club e outros também são culpados, em vez de apoiar essa especialização que ia vender a música nacional, os dj’s nacionais, os live acts, as editoras e demais negócios portugueses nesta área, alguns críticos da imprensa especializada, preferiram passar anos a falar das novas tendências em Berlim ou Paris, a insultar a pouco evoluída pista Portuguesa e o seu estilo musical e a puxar pelas novas e emergentes correntes que viriam a tomar conta das pistas.

Sendo completamente a favor da liberdade de imprensa, penso que ao não apoiar a especialização do nosso estilo musical proeminente, esses comentadores acabaram por querer educar, em vez de querer vender os artistas e a música ás gerações vindouras e agora que a crise estalou, provavelmente vão também ficar sem emprego.

Não posso deixar de olhar aqui para o lado, para os nossos vizinhos espanhóis que durante anos andaram presos ao “Bacalao” e que toda a gente considerava pouco evoluídos musicalmente. Rapidamente souberam criar uma marca á qual chamaram “Iberican Sound” e com isso promover um estilo musical (tão parecido ao nosso) e meter uma série de artistas e editoras nas bocas do mundo.

Perguntar se podíamos ter sido nós? – Não necessita de resposta, se em vez de olharmos só para o umbigo nos tivéssemos preocupado em investir na marca e na exploração da mesma, se nos tivéssemos apoiado e apoiado o estilo português, se tivéssemos sabido gerir a exposição e fama gratuitas de que gozámos durante anos na dance scene mundial. Se no Instituto que gere o turismo em Portugal alguém se lembrasse que a noite também se vende e traz pessoas ao nosso país, podíamos estar agora a discutir outras coisas menos graves.

It’s the Economy Stupid.

Claro que a situação do país se reflete na performance das suas empresas e demais negócios e agentes e os mesmos refletem o país que temos, daí nada a fazer, desinvestimento e desconfiança a todos os níveis.

No caso especifico de Lisboa que conheço melhor, após a explosão do movimento da música de dança em Portugal e a sucessão de acontecimentos que se lhe seguiram nos 4 ou 5 anos seguintes, notou-se um desinvestimento claro na produção de eventos, abertura de novos espaços e sobretudo na diversificação, com excepção de 3 ou 4 novos clubes, mas que abriram para viver como os outros já viviam ou seja em crise. Houve igualmente episódios tristes com promotores nas relações com artistas e fornecedores e isso gerou falta de confiança no mercado, curiosamente alguns desses promotores ainda estão no mercado, como novos nomes e imagens renovadas, continuam a trabalhar e a organizar eventos apesar do seu estilo de trabalho erróneo, sinal de que a crise só podia mesmo chegar.

Essa falta de investimento foi incapaz de trazer gente da periferia para os clubes da cidade para dançar, em vez disso assistiu-se ao fenómeno inverso de os clubes locais conseguirem concentrar as populações da sua zona de influência, pelos mais variados factores, assim sendo sem público, não se investe em programação internacional, não se cria Hype, não se atrai pessoas, não se vende a noite, a cultura e os profissionais da música de dança do país.

A politica de admissão em Portugal também não é a mais famosa, e é responsável pelo afastamento de muita gente. Cada vez que abre ou se renova um clube em Lisboa e penso que no resto do país não será diferente, limitam-se ao máximo as entradas, fazem-se pessoas normais, que se querem divertir, gastar dinheiro, que cumprem o dresscode, estar á porta horas a fio, sob a ideia de que dançar em ambiente selecionado é melhor do que dançar no meio da "malta" e só entram os mais "fashion", os VIP's e os conhecidos dos porteiros, claro que tudo isto chateia, se uma pessoa está disposta a pagar consumo e diversão, que é o que o estabelecimento vende, porque deve esperar horas na rua para o fazer?

No interior dos clubes a palavra inovação (tirando algumas, boas excepções) também não é coisa em que se aposte, a decoração chega a ser a mesma anos a fio, as equipas de bar normalmente têm pouca rotatividade e na cabine a linha musical escolhida para os dias normais, só é alterada uma no máximo 2 vezes por semana.

Sendo secundários estes factores fazem com que a cena empobreça, por isso os clubes se estão sempre a reposicionar, alguns já só funcionam á base de festas e noites temáticas, não conseguindo angariar pessoas numa noite normal só com os seus Dj’s residentes na cabine.

Por último os Dj’s, que segundo o tópico já não estão na moda. Será que é culpa deles? Em certa parte sim, por se alguns terem querido tornar pop stars (alguns) e agora estarem “out”.
Por não terem apostado no crescimento da sua popularidade e da sua pessoa sustentada só no seu trabalho, são fruto de uma cultura de hype/financeira que tal como os arrastou á ribalta ou arrasará sem problemas e lhes negará o próximo trabalho. É a regra base de qualquer figura pública, que o desgaste da imagem provoca afastamento do público a seu tempo, nessa altura façam como eu, (embora felizmente não seja figura pública)enfiem-se no estúdio e só de lá saiam quando a tempestade passar, pois renascer é sempre um acto divino e compreendido.

Nem uma palavra sobre os novos avanços tecnológicos que tornaram o mundo da música electrónica num mercado completamente louco, pois na minha opinião, saber entender o meio em que vivemos é razão de existir dos artistas e o único e verdadeiro factor de escolha existente, entre quem está na moda e quem está “out”.

Mais haveria para dizer, mas fico-me por aqui.

Divirtam-se apesar de tudo

Migas – Kult of Krameria